O FUTURO NÃO ESTÁ ESCRITO...


«O futuro não está escrito.

Não venham ler-mo nas cartas ou na palma da mão.

O futuro está em aberto até à sua revelação, cujo calendário desconheço.

A surpresa é que nos catapulta para o passo seguinte.

Um encontro inesperado, um acidente, uma história.

Uma decisão muda o curso de uma vida inteira.

Alquimia é isso.»

Isabela Figueiredo, “Um cão no meio do caminho” 



Porque não comemos larvas? 

 

Consideremos o seguinte problema: Será possível a existência de livre-arbítrio e determinismos ao mesmo tempo? Será que esses determinismos afetam todas as nossas escolhas? Será que somos livres? 

Subscrevendo a tese do Determinismo radical, baseada na crença de que tudo está determinado e que por isso não existe livre-arbítrio, eu defendo que não dispomos de razões para acreditar que somos livres. A meu ver, e tendo em conta que o Determinismo radical é uma tese incompatibilista, eu penso que a existência de determinismos não nos permite realizar escolhas livre, ou seja, fatores como a nossa cultura, situação familiar e até fatores biológicos têm sempre impacto na nossa forma de ver o mundo e, consequentemente, nas nossas escolhas 

Por exemplo, devido à cultura em que os portugueses se inserem, estes recusar-se-iam a comer larvas, caso pudessem escolher. Este comportamento pode ser visto inicialmente como uma escolha livre, mas é na verdade apenas uma consequência de vários outros fatores, neste caso um exemplo de determinismo pode ser a associação que os portugueses fazem das larvas com animais sujos. 

Em suma, eu penso que o ser humano não é livre pois sempre que fazemos uma escolha é possível descobrir fatores causais que nos levam a “escolhermos” aquela opção e não outra. Ainda por cima, com a evolução da biologia e outras ciências é cada vez mais notória a influência que os fatores externos e internos têm no desenvolvimento do ser humano e nas suas escolhas 

E assim concluo que a ideia do livre-arbítrio é apenas uma ilusão humana. 

 

Beatriz Felizardo, março 2023 



Sou eu o autor ou sou eu o ator da minha existência? 

 

Eu defendo o determinismo radical e acredito que não dispomos de razões para acreditar que temos livre-arbítrio. Por vezes, isto pode ser difícil de perceber, mas mesmo quando as causas nos parecem inexistentes, não significa que o sejam. A verdade é que há diversas causas que nos fazem tomar certas ações (sejam físicas/químicas, biológicas, sociais/culturais, psicológicas, entre outras) e a hereditariedade, a nossa própria personalidade, educação e coação do ambiente que nos rodeia, influenciam muito as ações que adotamos.  

Por exemplo, pequenos gestos que fazemos ao passar por alguém que nos deixa desconfortável (tensão, movimentos repetidos) são defesas causadas pela nossa aversão à pessoa. Outro exemplo: posso dizer que na afirmação “Neste domingo, aproveitei o Sol e deitei-me no jardim a descansar” está presente o livre-arbítrio, mesmo o autor afirmando que foi ele próprio que optou, sem ninguém o ter influenciado? Na minha opinião não, porque causas como cansaço, necessidade do próprio corpo de vitamina D, o facto de ser domingo e possíveis outros fatores poderão ter estado presentes na tomada de decisão do agente. 

Para concluir, o determinismo radical parece-me uma tese bem fundamentada, pois apresenta variadas causas possíveis para as nossas “escolhas”, mesmo não sendo uma tese agradável sob o ponto de vista romântico, já que as nossas ações não são reconhecidas como tendo-nos a nós próprios como agentes, ou seja, como seus autores 

E, tornar o livre-arbítrio implausível é uma machadada para a autoestima do ser humano  

                                                                          Leonor Claro Teixeira, março 2023 



Atravessar a passadeira no verde é uma decisão livre? 

 

No nosso dia a dia estamos constantemente a fazer escolhas ou, pelo menos, temos a ideia de que as fazemos. O grande problema é desvendar se na realidade somos livres, mesmo sendo moldados pela heracidade e pelo ambiente. 

Infelizmente acho que não somos livres, que não temos livre-arbítrio, mas pensamos que o temos. Desde pequenos foram-nos inculcados, quer pela nossa família, quer na escola, ações que devíamos ou não devíamos fazer. Por exemplo, atravessar a passadeira no vermelho sempre nos foi dito que era errado e quando optamos por passar no verde pensamos que estamos a agir livremente, mas a realidade é que só assim o fizemos, pois desde sempre nos foi ensinado 

O determinismo radical defende que todas as ações são determinadas e que o livre-arbítrio não passa de uma ilusão, as nossas ações dependem de fatores anteriores a nós ou das leis da natureza.  

Fatores externos e internos controlam as nossas supostas escolhas. O exemplo da passadeira enquadra-se nos fatores internos, mas a nível de fatores externos engloba tudo o que tiver a ver quer com características biológicas como psicológicas, sociais ou até limitações físicas. 

Para melhor argumentar a minha tese acho importante referir o que é que o determinismo moderado e o libertismo apontam contra ela. Dizem que se não existisse livre-arbítrio a vida não faria qualquer sentido, pois estaríamos a agir como robôs numa realidade onde já está tudo controlado mediante acontecimentos anteriores ou leis naturais. Apesar de não nos agradar, não é por isso que esta imagem da nossa ausência de liberdade se torna falsa.             Não podemos deduzir que a liberdade tem de existir só por acharmos que a vida sem liberdade não tem cabimento.  

                                                                                 Leonor Duarte Cunha e Costa, março 2023 



Só ilusoriamente somos livres… 

 

Uma das grandes questões da humanidade é se temos ou não temos a capacidade de exercer o livre-arbítrio.  

É certo que em alguns casos somos determinados, mas seremos sempre? Será possível coexistir livre-arbítrio com determinismo? 

Na minha opinião, não. Eu acredito que somos sempre determinados e que o livre-arbítrio não passa de uma ilusão criada pelo Homem para se satisfazer. A verdade é que os determinismos existem e estão presentes nas nossas ações mesmo que não os sintamos e parece-me impensável eles coexistirem com uma capacidade nossa escolher isto em vez daquilo, pois isso significaria alterarmos o verdadeiro valor da palavra livre-arbítrio para algo menos abrangente e mais "mole". 

Outro argumento que eu uso para defender a tese do determinismo radical é este: se acreditamos que os animais e os outros seres vivos estão sujeitos a ciclos e agem de determinada maneira consoante as suas experiências e a sua essência, porque é que o ser-humano é diferente? 

Eu acredito nesta tese não só devido a ela ser a mais objetiva mas também por ser a mais difícil de desconstruir. 

Tiago Vieira, março 2023 



Sinto que sou livre e que sou responsável Logo sou livre! 

 

            O problema do livre-arbítrio é algo que muitos filósofos discutem para tentar chegar à
verdade. Será que o livre-arbítrio existe? A meu ver, sim, o livre-arbítrio existe, mas não em todas as situações, apenas naquelas que não estão determinadas. Defendo, então, o libertismo. 

Eu defendo que algumas ações são determinadas por sentir algumas das causas que estarão na origem mas, também, pelos factos científicos que provam que as nossas ações têm causas anteriores, sejam elas exteriores ou interiores.  

Mas, nem todas estão determinadas. Algumas das nossas ações são livres, mas apenas aquelas que não estão determinadas, pois compatibilizar o livre-arbítrio com o determinismo não me parece possível, já que se uma ação é determinada, então não há nada que eu possa fazer para mudar isso. Tal como o libertismo defende, o livre-arbítrio é o poder de autodeterminação e, se algo já está determinado, então não vou poder ser eu o autor” ou “o árbitro” do que vai acontecer: ter livre-arbítrio. Daí vem a tese incompatibilista que o libertismo é, o livre-arbítrio e o determinismo não podem existir ao mesmo tempo.  

Temos razões para acreditar no livre-arbítrio pois, tal como diz o argumento da experiência, o ser humano sente que é livre e tem experiência em ser livre, por isso pode dizer que o é. Também como diz o argumento da responsabilidade, os nossos atos são da nossa responsabilidade, porque se não fossem, então que sentido faria haver prisões e multas ou até prémios? Os nossos atos são da nossa responsabilidade, então se fizermos algo incorreto, temos de lidar com as consequências e se fizermos algo correto temos o direito à sensação de mérito que daí resulta. Estes argumentos fazem-me defender esta tese pois ajudam a resolver o problema do livre-arbítrio, indo ao encontro da minha sensibilidade particular nesta reflexão. 

                Beatriz Carvalho, março 2023 



E as figuras históricas inconformistas? 

 

Neste texto tento responder ao problema:Será que somos mesmo livres para fazermos as nossas próprias escolhas? 

Eu acredito que sim, que podemos ser livres. Acredito que nós vivemos num mundo onde tudo acontece de forma determinística mas onde também há acontecimentos que são exceções a esse determinismo, pois são desencadeados por pensamentos e vontades humanas e isso permite-nos concluir que os seres humanos são livres. 

Mesmo sendo influenciados pela hereditariedade e pelo ambiente, existem casos de pessoas que se apresentaram como “exceções. São pessoas que mudaram o rumo da nossa história. Tenho o exemplo de vários homens renascentistas que, numa altura em que as pessoas eram muito influenciadas pela Igreja, mudaram a sua forma de ver e pensar, contribuindo para que a mesma mudança ocorresse nos seus contemporâneos e nas gerações vindouras. Essas pessoas acreditavam que elas mesmas tinham a capacidade de refletir e escolher em que acreditar, apesar de serem até mesmo perseguidas pela Igreja. Acho que é graças a essas escolhas livres que vivemos hoje com novos costumes, valores e conhecimentos.  

Eu acredito que as nossas ações são a causa da maneira como a vida se desenrola e que se não houvesse livre-arbítrio nós não conseguíamos evoluir e mudar os nossos ideais e costumes. 

É por isso que acredito na livre escolha e no livre-arbítrio. 

 

Pedro Silva Rodrigues, março 2023  



Ora, ora, pessimistas com uma lupa à procura de coincidências !!! 

 

Ao estudar o problema do livre-arbítrio somos confrontados com a questão “será que temos livre-arbítrio, uma vez que somos moldados pela hereditariedade e pelo ambiente?”.  

Enquanto libertista, eu penso que não. 

Para começar, “a existência precede a essência”. Tal como Sartre disse, ao contrário dos objetos, nós, seres humanos, primeiro existimos e só depois é que somos. Ou seja, não nascemos já com um propósito, somos nós próprios que ao longo da vida, ao longo de inúmeras escolhas, nos vamos construindo e moldando a nossa essência. 

Os deterministas defendem que tudo tem causas anteriores e que, como a ciência esclarece, tudo é determinado ou provocado por fatores prévios. Porém, o problema do livre-arbítrio é um problema de natureza metafísica e não se resolverá apenas através de experiências, é preciso raciocinar mais além. 

Pensemos então: O Homem distingue-se dos outros animais por ser um animal racional, ou seja, tem o poder de pensar, questionar e criticar. Ora, é exatamente isso que devemos fazer: Devo seguir os ensinamentos dos meus pais ou não? Devo usar as roupas que estão na moda ou não? Devo escolher a mesma escola que o meu amigo ou não? E mesmo que não o façamos (refletir sobre o ambiente que nos rodeia), isso é, ainda, uma escolha. 

Dizer que tudo está determinado é, na minha opinião, destruir a filosofia: se tudo tem causas anteriores, porquê pensar, porquê criar? Os deterministas são pessimistas com uma lupa à procura de coincidências. 

Cada homem tem, dentro de si, o poder da autodeterminação e, por muito que não queira, está condenado a ser livre! 

Sofia Rodrigues, março 2023 



Vou comer uma maçã ou uma laranja? 

Vou ficar a estudar para o teste de Filosofia ou

vou a uma festa com os meus amigos? 

 

O problema apresentado «Será que nós, seres humanos, temos livre-arbítrio?» - pressupõe que nós somos moldados tanto pelo ambiente no qual estamos inseridos como pela genética e química. 

Sendo um determinista moderado, pois acredito que todas as ações são determinadas, mas que algumas delas são simultaneamente livres, acho que sim, que dispomos de razões para acreditar que somos livres. Para mim, uma ação livre é uma ação em que tivemos o poder de escolha entre duas opções pelo menos, e na qual nós, ou por determinismos humanos ou por determinismos naturais, posso escolher o “lado” ao qual vou dar ouvidos. Sendo assim, temos razões para acreditar que temos livre-arbítrio sempre que se nos deparam mais do que duas possibilidades de escolha e não somos coagidos a optar por nenhuma delas. Nessas situações somos livres. 

A minha tese modifica o sentido do termo liberdade pois para os libertistas éramos livres nas situações em que não estávamos a ser determinados e os deterministas radicais achavam que todas as nossas ações eram determinadas por causas naturais e anteriores à nossas deliberações. E por isso, a liberdade não passava de uma ilusão. Como determinista moderado, acredito que sempre que temos mais do que uma possibilidade de escolha estamos a ser livres. Livres de escolher pela experiência, pela responsabilidade ou pelas nossas necessidades bioquímicas ou genéticas. 

Por exemplo, se eu me deparo com o dilema de comer uma laranja ou comer uma maçã, eu terei de escolher entre uma necessidade do meu corpo, se ele estiver carente de vitamina C (escolho a laranja) e a fruta que o meu paladar se habituou a apreciar (a maçã). Eu sou livre de escolher qualquer uma delas, ninguém me diz que não posso comer a laranja nem que não posso comer a maçã. Eu posso escolher saciar as necessidades do meu corpo ou comer a fruta que aprendi a preferir. 

Outro exemplo: Eu tenho a opção entre estudar para o teste de filosofia ou ir para uma festa com os meus amigos. Numa situação destas, eu posso escolher entre ouvir a “voz” da responsabilidade ou satisfazer o desejo de ir divertir-me com os meus amigos. É aqui que posso decidir o que vou fazer, se não estudo e tiro uma negativa no teste ou se vou para a festa porque vai toda a gente. Neste momento pondero os prós e os contras de cada uma das opções e decido de forma livre o que faço. 

Somos sempre determinados, evidentemente, mas não é por isso que não somos também livres, desde que não estejamos a ser coagidos! 

 

           Vasco Alves, março 2023