És livre, passarinho ?


Temos uma tendência irresistível para nos vermos como seres livres, talvez porque a todo o momento nos parece óbvio que fazemos escolhas...

Mas também temos cada vez mais conhecimento de como a hereditariedade e o ambiente nos moldam… 


Imaginemos uma família que está com problemas económicos...

    Eu acredito que, no dia a dia, as nossas decisões são condicionadas por vários fatores como variáveis biológicas, físicas, históricas e culturais, mas a decisão final, na maioria das vezes, está nas nossas mãos.

     Por exemplo, imaginemos que uma família está com problemas económicos e tem a possibilidade de emigrar para melhorar as suas condições. Neste caso, a sua decisão está condicionada pelos problemas que enfrentam, mas a escolha final de deixar o país é deles. Isto é um exemplo entre muitos que mostra que, na vida, estamos sempre condicionados por fatores que não dependem de nós, mas a maneira como lidamos com as coisas e as decisões que tomamos, essa depende de nós. 

    Concluindo, o argumento da evidência empírica (os outros agem, muitas vezes, contrariando a expectativa a que nos habituaram) e o argumento da experiência pessoal (sei que podia ter escolhido A em vez da opção B que efetivamente escolhi) fazem-me acreditar que o livre arbítrio no agir humano existe realmente. 

Ana Sofia Magalhães, em fevereiro de 2021 



... podemos sempre desobedecer e não cumprir ...


          A meu ver, apesar de todas as coações e condicionamentos que integram as experiências a que somos expostos ao longo da vida, temos livre-arbítrio. 

      Em primeiro lugar, mesmo que as condições que enfrentamos sejam verdadeiramente impactantes, nunca serão suficientes para determinar o nosso agir, de forma alheia à nossa vontade, em vez de ser a nossa liberdade a desencadear esse agir, uma vez que, mesmo estando condicionados por uma autoridade maior como a lei, por exemplo, podemos sempre desobedecer ou não cumprir.  

       Em segundo lugar, as nossas ações partem de nós e são deliberadas. O ambiente em que vivemos e/ou as experiências do pretérito podem influenciar-nos no momento em que balanceamos os prós e contras da nossa ação, mas nunca na decisão de agir. A experiência pessoal de que podia ter escolhido uma alternativa diferente daquela por que me decidi é um argumento forte a favor de que realmente temos livre-arbítrio. 

  Em síntese, somos, de facto, livres apesar de podermos ser influenciados/condicionados por fatores como o ambiente em que vivemos e/ou a hereditariedade. Caso contrário, não nos sentiríamos responsáveis pelas consequências das escolhas que fazemos nem atribuiríamos aos outros responsabilidades de qualquer tipo – a constatação da responsabilidade, nossa e dos outros, é também um argumento forte a favor da crença na liberdade.  


                                                            António Martim Gouveia, em fevereiro de 2021 



Por exemplo, se nascemos numa família ...


Na minha opinião, quando nascemos num determinado local, vamos ser condicionados a certas situações a que talvez, tendo nascido noutro, não estivéssemos sujeitos. Por exemplo, se nascemos numa família pobre, vamos ter uma casa mais pequena, os nossos pais têm menos condições financeiras, vamos para uma escola menos boa, temos menos roupas e, em geral, não temos tantas condições como se tivéssemos nascido numa família rica ou simplesmente com mais possibilidades. Vamos ser moldados a diferentes ambientes e pessoas pois, ao estarmos inseridos numa mesma cultura, época, ou região, o nosso pensamento é, por si só, influenciado/moldado. Somos seres humanos e, como tal, trazemos em nós partes de toda a nossa história e cultura. Ora, se o nosso ser é influenciado por estas mesmas circunstâncias, também o nosso pensamento o será, ainda que subconscientemente.  

Mas, defendo também que uma pessoa tem sempre a possibilidade de deliberar e escolher as próprias ações e que de maneira alguma é determinada, em termos absolutos, naquilo que faz. Assim sendo, teremos tendência a agir consoante fomos ensinados mas, por isso mesmo, quebrar certos padrões de comportamento é uma tarefa tão morosa e desafiante, ainda que possível.  

Que argumentos invoco a favor do meu ponto de vista? O argumento da responsabilidade: se ao avaliarmos a bondade de uma escolha atribuímos a responsabilidade da mesma a nós ou a outros é porque partilhamos a certeza de que o autor ou agente dessa escolha podia ter optado diferentemente! Ou o argumento da experiência pessoal: sinto como evidência indesmentível que quando escolhi A podia, no entanto, ter escolhido B. 


Carolina Alves, em fevereiro de 2021 



Um ser humano inserido num ambiente violento...


É para nós, seres humanos, irresistível acreditar que somos livres mas, no entanto, temos cada vez mais provas de que isso pode ser uma ilusão. 

 Eu acredito na tese do determinismo moderado, em que não vejo os constrangimentos como determinismos e sim como condicionantes. 

 Um ser humano inserido num ambiente violento, geralmente, tende a tornar-se num agente violento também. No entanto, não acredito que esse ambiente o determina, mas sim que apenas o condiciona. O ambiente apresentado é um obstáculo que nos pode coagir ou não, pois o ambiente como uma condicionante é apenas um constrangimento, a que é possível dar a volta, dando-nos na mesma a hipótese de escolher se ultrapassamos esse obstáculo ou não. Todos conhecemos muitos casos de pessoas que não são violentas apesar de terem sido imersas num ambiente extremamente violento, ou seja, escolheram não ser determinados por esses obstáculos. Relativamente à hereditariedade, esse constrangimento é, novamente, uma condicionante, um obstáculo a que é possível dar a volta, fazendo-o jogar a nosso favor sem o deixar desencadear, em vez de nós, as nossas escolhas. Ou seja, não nos determina! 

Em suma, segundo a tese que defendo, o ambiente e a hereditariedade não nos determinam, apenas nos condicionam, tendo eu, na mesma, a liberdade para escolher. Logo, não acredito que ambiente ou hereditariedade sejam fatores que nos levem a acreditar que não temos livre-arbítrio. A minha experiência pessoal do que acima foi dito, a evidência empírica de que os outros experienciam o mesmo que eu e o sentimento da responsabilidade associada às ações escolhidas, por mim e pelos outros, são fortes argumentos de que o livre arbítrio é verdadeiro. 


Elisa Bastos, em fevereiro de 2021



Eu passo numa loja de gomas na qual não há sensores de roubo...


Eu defendo que somos livres de tomar as nossas decisões. Mas, porém, existe sempre algo que as condiciona mesmo que nós não nos apercebamos da existência desses condicionamentos Esse nosso desconhecimento dará origem a uma sensação de liberdade que será, por isso, ilusória. 

Isso é visível em algumas situações como por exemplo: 

Eu passo numa loja de gomas na qual não há sensores de roubo e eu penso “eu só não roubo naquela loja porque eu não quero”. Contudo, mesmo pensando que a minha escolha é livre, aquela decisão foi condicionada pela educação que os meus pais me deram e também pela existência das leis que me faziam saber das consequências que aquela minha ação poderia ter. 

Concluindo, acredito que sou livre porque desconheço ou não tenho consciência dos determinismos que efetivamente causam as minhas ações. Mas a lucidez diz-me que sentir ou pensar ou acreditar numa coisa (o meu livre arbítrio) não é sinónimo de que essa coisa exista em si mesma, realmente. 

Francisco Araújo, em fevereiro de 2021



Vejo condicionantes em coisas como as redes sociais, os nossos pais e as leis do governo...


Será que a liberdade da qual achamos ser donos é real ou não passa de uma ilusão criada para fazer o ser humano feliz?  

Na minha opinião não somos totalmente livres de fazer as nossas escolhas uma vez que ao longo da vida vamos tendo experiências que de certa forma moldam a nossa maneira de pensar e dessa forma não nos permitem fazer uma escolha totalmente livre. Não suporto também a ideia de que todas as nossas ações são determinadas e de que vivemos totalmente à mercê do destino e das causas naturais. Apoio, portanto, uma tese que compatibiliza liberdade e determinismo e defendo que somos livres, mas condicionados. 

Mas o que é isto de sermos condicionados e livres ao mesmo tempo? Considero que as experiências por que passamos e a sociedade em que vivemos não nos são indiferentes e vão de certa forma deixar marca na nossa forma de agir e de pensar. Estas experiências são a meu ver condicionantes, mas não são os únicos fatores desencadeadores das nossas escolhas. Na sociedade em que atualmente vivemos, somos, cada vez mais, levados a agir da maneira que nos é imposta pelas normas da sociedade. Estas normas condicionam o nosso agir uma vez que somos levados a orientarmo-nos por elas, mas podemos escolher não o fazer sujeitando-nos a consequências indesejáveis, mas agindo de forma livre. 

Vejo condicionantes em coisas como as redes socias, os nossos pais e as leis do governo. Estes fatores condicionam as nossas escolhas à sua maneira, mas não somos obrigados a deixarmo-nos 

determinar por eles. 

E com que argumentos dou força ao meu ponto de vista? O argumento da experiência pessoal, minha e dos outros: todos vivenciamos situações em que escolhemos B apesar de podermos ter escolhido A! Além disso, avaliamos a justiça das decisões, nossas e alheias, atribuindo responsabilidades e só tem sentido falar na responsabilidade de quem pode realmente escolher! 

Logo, a crença generalizada na causalidade livre do agir humano é verdadeira! 

 


Miguel Marinho, fevereiro de 2021



...a ilusão falsa de uma liberdade inexistente...


Na minha opinião, o desconhecimento das causas das nossas crenças e dos nossos desejos ou das causas que nos levam a agir de uma determinada forma cria a ilusão falsa de uma liberdade inexistente. Como não conseguimos entender os motivos que nos levam a tomar as nossas decisões, acreditamos que somos livres.  

Penso que as nossas escolhas são resultado de fatores biológicos e ambientais. Há sempre causas que determinam as nossas ações fazendo com que estejamos programados para agir de determinada forma. Assim podemos concluir que as nossas decisões estão determinadas e o livre-arbítrio é apenas uma ilusão. 

Então como explicar que tenho a consciência de que podia ter escolhido A em vez de B?  

Ou como explicar que face a certas decisões me sinto responsável pelas consequências enquanto perante outros acontecimentos que sucedem a ações minhas isso não acontece?  

Como entender que o comportamento dos outros é para mim previsível, mas nem sempre, ou só até certo ponto?  

É que acreditar em algo não implica que esse algo exista. E, por isso, a forte convicção que nos acompanha de que somos nós os autores das nossas escolhas pode ser apenas o sintoma de que não conhecemos ou não temos consciência do encadeamento de determinismos que nos conduziu a preferir certa coisas a outras. 


Pedro Boto, em fevereiro de 2021