Violência Cúmplice

 Qual a perspetiva acerca dos valores que nos
oferece as melhores razões contra a intolerância? 

 

Considero que uma pessoa objetivista se opõe à intolerância, porque ao aceitar que se pode enganar, sabe que apenas através de um debate imparcial, com argumentação racional, entre diferentes pessoas e culturas, se poderá chegar a uma conclusão com juízos de valor justificados. Por esta razão, é visível a atitude de tolerância por parte do objetivista. Por conseguinte percebemos a superioridade do objetivismo aplicado aos dilemas vividos nas sociedades atuais. 

O caso prático que escolho para abordar neste meu texto é seguinte: “Quando os homens são violentos é porque as mulheres fizeram alguma coisa de errado”; “Entre marido e mulher não metas a colher”; “O namorado não lhe devia ter batido, mas ela estava mesmo a pedi-las". Nestes três “tesourinhos” de moral tradicional, de acordo com os princípios do objetivismo, deveríamos interferir nas situações de forma educada e civilizada e tentar convencer as pessoas a mudarem de atitude. Ao interferirmos nestas situações não estamos apenas a ser solidários com o outro que está a ser vitimizados, mas também a mostrar que a nossa perspetiva não aceita a intolerância. 

 Nesta situação, se eu fosse uma pessoa subjetivista, consideraria que as pessoas envolvidas na agressão acima referida estariam a comportar-se de acordo com os seus próprios valores e eu não me metia e deixava que as mulheres fossem abusadas pelos homens de uma forma vil e violenta, pois os meus valores não são superiores aos deles. no caso de me considerar uma pessoa relativista, ao ver este acontecimento de troca de palavras odiosas, eu não interferiria, no caso de se tratar de um casal de uma comunidade cuja tradição promovesse as frases entre aspas. 

Mas será moralmente correto eu não me meter num caso destes quando sei que há alguém a sofrer física e/ou psicologicamente? 

Estarei a agir de uma forma correta? 

Não estarei a tomar uma atitude intolerante quanto a este assunto, ao não interferir? 

Como objetivista, acho extremamente incorreta a não-interferência em casos como estes, uma vez que se ninguém fosse objetivista as mulheres seriam impunemente agredidas e por exemplo a polícia, mesmo sabendo destes casos, não julgaria os envolvidos só porque “entre marido e mulher não se mete a colher”. 

Posto isto, apenas gostaria de reforçar a ideia de que não existe perspetiva mais tolerante do que o objetivismo e este deveria integrar um papel fundamental na sociedade. 

 

Ana Catarina Dias em janeiro de 2022 




A intolerância da violência doméstica 

 

Desde os tempos da civilização grega que é proposta a pergunta:  

Qual é a natureza dos valores?  

Serão os nossos valores dependentes da pessoa, da cultura, da sociedade?  

Ou será que os valores ultrapassam a individualidade ou até o coletivo? 

Ao longo de vários séculos de desenvolvimento filosófico e humano, surgiram teorias divergentes acerca da natureza dos valores mas, com o surgimento de guerras, de um mundo multicultural, agora com uma população de quase 8 mil milhões, será possível defender uma perspetiva consensual? 

A primeira teoria sobre a natureza dos valores foi o subjetivismo, que defende que os valores são puramente e somente da pessoa, ou seja, são criações de cada sujeito, são meras opiniões individuais. Mas se isto for verdade, o debate, a argumentação, o sentido de comunidade e o viver em sociedade não fazem sentido. Com o subjetivismo, o mundo seria desordem, pois o que cada um acha está certo 

Como reação contra o etnocentrismo, os sentimentos de superioridade de certas etnias, nacionalidades ou culturas sobre outras, surgiu uma nova teoria o relativismo, que defende que os valores são criados culturalmente, que mudam e variam entre culturas, logo, seria errado julgar uma pessoa duma cultura diferente da minha, pois essa pessoa tem valores diferentes (herdados da sua cultura) e, sem um valor objetivo e universal, quem sou eu para denunciar a ação doutro sujeito ou de outro grupo cultural? 

A essa pergunta veio responder o objetivismo, a posição que eu defendo. O objetivismo defende que, independentemente do sujeito e da sua cultura de pertença, devem existir valores objetivos, universais e invariáveis, que transcendem diferenças culturais, étnicas, religiosas, etc…  

O objetivismo, também conhecido como interculturalismo, luta por um mundo coerente, justo e organizado, porque só assim é possível derrotar ameaças globais como guerras, fome, pobreza, pandemias, etc… 

Por exemplo, num caso de violência doméstica em que um homem bate na sua mulher, para um subjetivista, esta ação não é denunciável e é moralmente permissível, pois se a violência e o abuso dum parceiro é ético para o sujeito que bate na mulher, ninguém pode dizer que ele não deve fazer isso. 

Se o homem que bate na mulher for duma cultura diferente da minha, e eu denuncio o comportamento dele, um relativista poderia defender o homem, pois na cultura desse homem bater nas mulheres é normal e perfeitamente aceitável. Então, como é que eu, que não faço parte da cultura dele, tenho autoridade para dizer que ele não pode ou não deve fazer isso? 

É por isto que eu defendo o objetivismo. A multiculturalidade do nosso mundo é linda, e todas as tradições pacíficas devem ser preservadas e respeitadas, dentro e fora da comunidade que as praticam. No entanto, recuso-me a desculpar um homem que bate na mulher sob a justificação dos seus padrões culturais.  

O objetivismo propõe que, através de educação, debates abertos e, sempre, com muito respeito, deveríamos, todas as comunidades e pessoas do mundo, traçar uma linha de valores invioláveis quer seja a condenação do roubo, do assassinato, da guerra, da violência (e da violência doméstica), da injustiça, da mutilação, da discriminação, etc… Deve haver valores objetivos que juntam todas as diferentes comunidades do planeta Terra. Assim, preservamos a diversidade cultural, que é belíssima, e mantemos o nosso humanismo, com respeito por todos. Termina a intolerância, começa a paz para todos. 

O mundo ocidental já deu um passo em frente com a Declaração Universal dos Direitos Humanos em 1948 (após uma guerra que violava esses mesmos direitos). Temos agora de institucionalizar estes direitos à volta do mundo todo, para assegurar que nunca mais ninguém sofra, independentemente de quem é, de onde veio, das tradições que mantém, da religião que pratica, etc… 

A verdade é que o maior obstáculo ao nosso desenvolvimento como uma aldeia global é a discordância entre os diferentes grupos que constituem este nosso mundo multicultural. Sem a cooperação de todas as pessoas, todas as culturas, o progresso e desenvolvimento humano será impossível. Então vamos, através de comunicação e educação mútua, criar um mundo tolerante. Um mundo de nós todos, para nós todos. 

 

Miguel Araújo em janeiro de 2022