LIBERDADE OU APENAS INSTINTO???

Porque nos parece o valor de Heitor mais autêntico e mais difícil do que o dos insetos?

    Nesta história é-nos apresentada uma comparação entre o comportamento das formigas brancas, as térmitas africanas e um feito heroico humano, a saber, a luta entre Heitor, o melhor guerreiro de Troia, e Aquiles, o enfurecido campeão dos Aqueus.

    Esta comparação é feita, devido a, tanto as térmitas como Heitor, sacrificarem o seu corpo para salvar a sua população e o seu território.

    No entanto, só Heitor age sabendo estar em desvantagem…

   No final do enredo, surge uma pergunta “Porque nos parece o valor de Heitor mais autêntico e mais difícil do que o dos insetos? Qual é a diferença entre um e outro caso?”.

   Para mim, a grande diferença é estarmos a comparar animais não racionas, as térmitas, com animais racionais, o ser humano.

  Digo isto pois, tal como em todos os animais, as térmitas agem a partir de marcadores somáticos, não racionais, aprendidos com as experiências de vida, para além de que nascem já “formatadas” para fazer o que nos é descrito no texto, que basicamente se resume ao que está naturalmente determinado pelos seus instintos animais.

    Por outro lado, no exemplo do feito heroico humano, Heitor escolheu entre lutar ou não lutar com Aquiles, portanto deliberou as hipóteses que tinha ao seu alcance, visando chegar a algum objetivo. O que se pode dizer que foi um feito heroico foi a escolha deliberada e raciocinada de ir ou não combater Aquiles.

   Com isto percebe-se que realmente damos mais importância ao feito heroico humano pois realmente houve uma decisão por parte do sujeito, enquanto nas térmitas são os marcadores somáticos não racionais combinados com o instinto que as guiam e é por isso que todas estas formigas farão o mesmo. Já os heróis humanos, farão ou não…

Bernardo Almeida, em janeiro de 2021


Somos todos Formigas?

     As formigas invasoras são seres com comportamentos causados por determinismo natural porque têm o instinto animal de atacar os mais fracos (cadeia alimentar). Este instinto faz parte delas, como organismos biológicos, e por isso, neste caso, elas não fazem uso do seu livre-arbítrio, evidenciando não dispor dele.

   No caso das térmitas-soldado, trata-se também de um caso de determinismo natural porque estas têm o instinto de proteger o seu formigueiro, tentando impedir que as formigas invasoras avancem e morrendo para salvar as restantes formigas da sua espécie que se esforçam para fechar a termiteira derrubada, agindo pelo instinto de defesa do seu grupo de pertença que se sobrepõe ao instinto de sobrevivência individual.

    Quanto ao caso de Heitor, um dos heróis da guerra de Tróia, na minha opinião, estamos perante uma situação em que a personagem age livremente e não é agida pelo determinismo da sua natureza animal. A decisão final de lutar foi dele. No entanto, há fatores que condicionaram a sua decisão, como o facto de sentir como seu dever defender a família e os concidadãos do assaltante e de ser visto por todos como tal.

    Este texto é um exemplo que mostra que a maioria das atitudes dos animais irracionais são apenas reações instintivas dos mesmos perante uma certa situação. Já os humanos, na maioria dos casos, tomam as suas próprias decisões com base nos marcadores somáticos aprendidos com as experiências de vida (tal como acontece com os animais); mas as decisões são racionais e conscientes de que são uma escolha entre várias possibilidades.

    Na circunstância em questão, o agir dos troianos parece-me ser um caso de do que nas teorias filosóficas sobre a liberdade humana se chama determinismo moderado.

Ana Sofia Magalhães, em janeiro de 2021


Térmitas Kamikaze vs Guerreiros Humanos

     No texto “Ação e Instinto”, F. Savater deixa-nos uma questão deveras aliciante. São usados como exemplo duas ações parecidas – a coragem de Heitor (guerreiro troiano da Ilíada, que decide enfrentar Aquiles, um guerreiro claramente mais forte e habilidoso) e o trabalho das térmitas kamikaze, que dão a vida para ganhar tempo de reconstrução do formigueiro às térmitas operárias, visto que, sempre que este por alguma razão é destruído, é imediatamente atacado por outros insetos predadores.

    Contudo, será que Heitor foi, realmente, corajoso? Será que as formigas agem seguindo os instintos naturais ou respeitam uma cadeia de valores pessoais?

    Na minha opinião, no que toca ao primeiro problema, Heitor foi, com toda a certeza, impávido. O guerreiro troiano escolheu defender a sua honra e a sua terra e tem, portanto, livre-arbítrio. Não cedeu à possibilidade de driblar as responsabilidades e zarpar sem retorno programado. Logo, o ser humano é livre, embora existam eventos na vida que ninguém pode evitar, a começar logo pela existência e a liberdade. Se alguém fosse, verdadeiramente, sobre humanamente livre, seria capaz de cessar a sua liberdade por simplesmente não o querer ser.

    No que toca às formigas, acredito num mero instinto que a Natureza lhes atribuiu para preservar a sua espécie, mesmo que implique o “suicídio” de alguns dos seus membros. Nenhuma formiga da história deixou de ser operária para ser soldado, ou vice-versa. (admitindo, no entanto, a minha ignorância no que toca a situações que envolvem problemas mentais em insetos).

   Em síntese, o feito de Heitor é, definitivamente, mais autêntico e notável que o das formigas-brancas africanas.

António Gouveia, em janeiro de 2021



"Ficar vivas e não salvar as restantes formigas da sua espécie,

 ou morrer a lutar e cumprir o seu dever"

     Como sabemos, o determinismo radical é uma posição filosófica que põe em causa o uso do livre-arbítrio, defendendo que o ser humano não usa o seu livre arbítrio quando age, porque simplesmente é desprovido dele. Para os deterministas radicais, todas as nossas ações são causadas por fatores naturais (determinísticos), mesmo quando não temos consciência disso e vivemos a ilusão de que somos nós a escolher – a ser livres. As nossas ações explicam-se, portanto, exatamente como as das formigas – causadas (determinadas) por fatores naturais, como o instinto, por exemplo.

      No caso das térmitas operárias que constroem a sua casota depois de ser destruída pelas formigas invasoras, podemos considerar que obedecem a um determinismo natural, visto que elas agem de forma automática. Elas já nascem com esse instinto de ter de o fazer, ou seja, não têm nenhum tipo de deliberação e uso do livre-arbítrio, tal como não têm a noção de “obrigação” ou “dever” que são ideais que, para nós homens, são escolhas que fazemos se decidirmos optar por elas (liberdade de seguir ou não o dever). Por outro lado, temos as térmitas soldado que defendem a sua tribo das formigas invasoras e que agem igualmente de forma instintiva.

    Quando no texto Savater escreve “(…) penduram-se nas assaltantes tentando travar o mais possível o seu avanço, enquanto as ferozes mandíbulas invasoras as vão despedaçando.” dá a entender que as térmitas soldado, apesar da sua minoria e do seu pequeno porte, aparentam agir de forma voluntária para tentar travar a invasão, ou seja, aparentam ter a liberdade de escolha entre poderem ficar vivas e não salvar as restantes formigas da sua espécie, ou morrer a lutar e cumprir o seu dever. Mas, na realidade, só Heitor tem essa liberdade que resulta: - de ter consciência de haver mais do que uma saída possível; - da capacidade racional de deliberar, em função de valores; - e de se sentir responsável pela escolha que fez.

Nina Leiria, em janeiro de 2021