A resposta religiosa para o problema do sentido da vida é totalmente insatisfatória.
A necessidade de encontrar um sentido para a vida está relacionada com a consciência da inevitabilidade da morte. As religiões resolvem este problema dizendo que a morte não é o fim, mas sim a passagem para outra “vida”, que consideram superior ao mundo material. Receio que a realidade seja bastante diferente do que a que o ser humano desejava que fosse. Para mim, acreditar na vida depois da morte não passa de uma ilusão. A própria ideia de “vida” depois da morte vai contra tudo o que se sabe em ciência. Mais uma vez, embora esta ideia seja uma boa resposta para alguns, as evidências claramente não apontam para isso. Neste sentido, a religião é totalmente incompatível com a ciência simplesmente pela forma como ambas operam. Enquanto a ciência se baseia completamente nas evidências e vai para onde estas a levarem, a religião é baseada nos textos sagrados e dogmas que, por serem supostamente revelados por Deus, se impõem com uma autoridade inquestionável. Ora, textos e dogmas foram, na realidade, inventados por pessoas com mentalidade pré-científica que tentaram responder às grandes questões, nomeadamente quanto à finalidade da nossa existência. Assim, as religiões são uma ilusão e constituem um grande impedimento ao desenvolvimento humano, ao progresso científico e ao avanço para uma moral adequada a uma sociedade do nosso tempo.
Para mim, perguntas como “porque é que existimos?”, em termos de propósito, não são perguntas válidas. Podemos responder a perguntas do tipo “como é que tudo começou?” ou “como é que o ser humano existe?”, embora possamos ainda não ter a resposta. Perguntar pelo propósito da nossa existência não tem significado, tal como perguntar “qual é o propósito de uma montanha ou de uma pedra?” também não o tem. Claro que podemos explicar “como as montanhas se formam”, mas perguntar “porquê” no sentido de propósito é, no mínimo, inútil.
Acho um pensamento totalmente egocêntrico por parte do ser humano achar que o universo nos deve algum tipo de sentido para a vida. Calcula-se que existem entre 1000 milhões e 30 000 milhões de planetas na nossa galáxia e cerca de 100 000 milhões de galáxias só no universo observável. Pensar que existe um Deus capaz de criar isto tudo só para poder ter uma relação pessoal com o Homem não é propriamente um pensamento humilde.
Para mim, a vida não tem propósito por si mesma. O propósito da nossa vida não depende de Deus mas sim do que nós fazemos, de encontrar objetivos para as nossas ações, da procura pela felicidade, de praticar o bem… O sentido da vida está dependente do que cada um fizer dela.
Para as pessoas religiosas, o sentido da vida depende de Deus e da vida depois da morte. Ponha-se a hipótese, só por um momento, de que Deus não existe. Será que a vida destas pessoas continua a ter sentido, mesmo que a única coisa que dá sentido às suas vidas não exista? Para mim a resposta é óbvia: não. Não acredito em Deus, e não é por isso que a minha vida não tem valor. Acho que quando morremos é literalmente o fim. O facto de a nossa vida ter um fim não reduz o seu valor, pelo contrário, faz com que nós tenhamos vontade de fazer as coisas e com que tenhamos objetivos. Tive o privilégio de existir neste universo e de o tentar compreender e sou extremamente grato por isso.
A religião é resposta para a questão:
“A vida tem sentido?”
SIM!
Será que realmente temos um propósito de existência? Será que a religião sabe responder a estas questões? Será que é Deus que conhece o nosso propósito, sendo ele para além da nossa compreensão? Ou será apenas o medo da morte e o sentimento que nos leva a crer que vivemos e morremos em vão que nos leva a criar uma imagem idealizada da vida eterna? Estas são algumas questões que precisam de ser respondidas para que possamos compreender o problema do sentido da vida.
Sim, eu acredito que a resposta religiosa para o sentido da vida é satisfatória, porque o facto de eu acreditar que só Deus tem um projeto de vida para mim, muitas vezes incompreensível, leva-me a acreditar que esse propósito existe. Eu penso que o facto de acreditar que Ele tem uma “tarefa” para mim, um trabalho a desempenhar com as minhas qualidades neste mundo humano, leva a que eu tenha muito mais fé e que confie em Deus. Afinal, a vida religiosa não é ir às celebrações e rezar todos os dias (qualquer que seja a religião) e esperar pela vida eterna. Isso é uma forma de a exercer, mas a vida religiosa é, sim, uma forma de estar ao longo da vida. Muitos filósofos ateus como Freud acreditavam que Deus era fruto de uma neurose obsessiva e uma ideia inventada para que o homem se sentisse protegido e de certa forma “fugir” e “justificar” a morte e a crueldade com que muitas vezes a vida nos atinge. Nietzsche via também a religião como algo prejudicial e negativo para o desenvolvimento da humanidade e para o homem, fazendo-o viver numa mentira. Mas honestamente, eu vejo a religião de uma forma completamente diferente.
Efetivamente, em tempos remotos, talvez a religião tenha sido uma forma de escapar à realidade ou um instrumento de grupos no poder que impediu o desenvolvimento, mas a história mostra-nos também o contrário. Eu vejo a religião como um caminho de aperfeiçoamento individual que me leva a Deus. Acredito que a felicidade é o objetivo de vida de cada Homem e, ao contrário do que Freud e Nietzsche referem, eu acredito que esta felicidade não é uma mentira, mas sim algo que Deus quer para nós e também algo que Ele quer que nós procuremos, porque ao querermos ser felizes, não na dimensão material mas sim no verdadeiro sentido espiritual de felicidade, estamos a procurar o bem, e ao procurarmos o bem estamos a aproximar-nos de Deus, isto é, estamos a aproximar-nos do bem absoluto. Só o facto de acreditarmos que Ele quer a nossa felicidade, já nos dá mais fé para acreditar e confiar Nele e, ao termos fé, vemos o mundo de uma outra forma, de uma forma mais humilde e recetiva, pelo que vamos aceitar muito mais facilmente o “destino” que Ele tem guardado para nós (a vida eterna). Sim, porque não há qualquer dúvida de que, a dado momento, o nosso tempo neste mundo físico vai acabar, mas não a nossa vida espiritual. Eu acredito que este aceitar que a fé nos dá, não nos prejudica de forma alguma, porque o facto de aceitarmos a vida como ela é torna-nos mais humildes mas também corajosos, para podermos lutar e mudar o que estiver ao nosso alcance, assim como nos dá o discernimento para distinguir ambas as situações: a aceitação e a luta. Na minha opinião, estes são valores infelizmente um pouco esquecidos na sociedade de hoje em dia.
Em suma, eu acredito profundamente que a resposta à nossa pergunta constante “o que fazemos neste mundo?” está ao alcance da nossa compreensão desde que estejamos atentos aos sinais de Deus ao longo da nossa vida. Cabe-nos a nós compreender e aceitar isso, porque só assim podemos viver a vida como devemos, na procura pelo bem, individual e comum, e na humildade e aceitação do que temos.
Se um dia alguém me perguntasse como me sentiria se depois de morrer descobrisse que Deus não existia, eu responderia que tinha valido a pena pois assim tinha sido mais feliz...
NÃO!
Não é preciso haver um “depois da morte” para a vida fazer sentido!
A religião é suficiente para justificar o sentido da vida?
Penso que a religião pode ser um dos meios para explicar o sentido da vida, mas não é de todo suficiente e completamente satisfatória. A tentativa de explicar o sentido da vida e a sua origem data das primeiras civilizações à face da Terra, que, por falta de respostas, encontraram no mundo metafísico uma justificação para ”tudo”.
Na minha opinião, a justificação da vida exige uma resposta muito maior do que aquela que nos é dada pelas religiões ou pela mera crença num Deus. Se pensarmos duas vezes, a religião é uma invenção do homem tal como Deus também o é. Não existem dados que apoiem a existência de Deus e, pessoalmente, vejo a religião como um negócio e uma ideologia para prender o pensamento das pessoas.
Seria altamente imprudente da minha parte refutar a ideia de que tudo teve um princípio e de que algo criou a matéria, pois todos nós pensamos assim, não é verdade? “Tudo tem um princípio!”. Mas, talvez o Cosmos seja a única coisa que não teve um princípio… Talvez a mente humana não esteja à altura de o conceber!
O sentido da vida é um assunto altamente discutível, mas, na minha opinião, não é preciso haver um “depois da morte” para a vida fazer sentido. Se existiu um princípio para a existência de cada indivíduo também existe logicamente um fim e este fim é a morte. Se não nos lembramos de como era antes do nascimento, será que é razoável acreditar que realmente existe uma continuidade depois da morte, para atribuirmos um sentido ou uma finalidade à vida? Penso que para a nossa existência fazer sentido não precisa necessariamente de ter uma continuidade ou finalidade após a morte. Apesar de a mente humana procurar sempre uma causa para tudo, acho que, como não temos a certeza de que realmente existe um paraíso para além da morte, não devemos presumir que este exista e ao mesmo tempo subestimar o acontecimento concreto que é a vida, dizendo que “se só for isto o que o universo tem para nos oferecer então nada faz sentido”. Quem disse que algo precisa de ser bom para fazer sentido?
Apoiando as ideias acima, a vida é algo mágico que não deve ser justificado por dogmas e coisas que não temos a certeza de que existem, tais como a alma ou Deus. Em que consiste o sentido da existência deve ser motivo de reflexão e pode ou não ter uma resposta capaz de serenar a nossa ansiedade face à inevitabilidade da vida terminar com a morte.
David Craveiro, 2019-2020
NÃO!
O sentido da existência está antes e não depois da morte!
Será que a nossa vida tem sentido? E será que a religião consegue explicá-lo? Associamos a expressão “sentido da vida” a propósito ou finalidade da mesma. Alguns argumentam a favor de Deus, dizendo que é Ele que dá sentido à nossa existência. Mas outras pessoas, mais propriamente, os não crentes, descartam totalmente essa resposta.
No meu ponto de vista, nem Deus nem a religião conseguem dar sentido à nossa vida. Eu defendo que ninguém, a não ser nós próprios, pode dar valor ou propósito ao nosso percurso no mundo. Aquilo que fazemos - ações e decisões - vão definir a nossa utilidade neste mundo e qualquer coisa, mesmo até mínima, pode influenciar e mudar o nosso futuro.
E a morte? Se, para nós, não existe nada além da morte, consequentemente, a nossa vida não tem sentido? Não! A nossa vida vai ter sempre um sentido, apesar de ter um fim porque a mortalidade é algo que nós todos temos em comum.
Sendo assim, será que durante alguma fase do nosso percurso, a finalidade da nossa existência será a mesma? Creio que não. No início, quando somos mais novos, bebés ou crianças, não fazemos nada pelo nosso futuro. O único fator que pode, ou não, influenciar a maneira como vamos vivendo é a nossa educação. Mas, à medida que crescemos, as nossas ambições e sonhos vão tomando forma e somos nós que os podemos mudar e que vamos escolher entre persistir neles ou desistir deles ou, ainda, alterá-los, tornando-os exequíveis.
Imaginemos que planeamos construir ou inventar algo. Trabalhamos arduamente por isso e, finalmente, conseguimos alcançar o nosso objetivo. No entanto, alguém simplesmente rouba a nossa criação. Será que isto anula o sentido de todo o meu esforço? Não creio pois esse sentido não está totalmente perdido, uma vez que obtivemos vários conhecimentos que, de outra forma, não fariam agora parte de nós, assim como valores que aprendemos com a nossa experiência tais como: empenho, espírito de equipa (dependendo do caso), dedicação, esforço, etc.
Concluindo, o sentido da nossa vida é o que resulta da maneira como nós próprios vamos construindo a nossa existência.
Gabriel
Lopes, 2019-2020