A preguiça de sairmos da caverna...
A alegoria da caverna demonstra, de forma clara, como as ideias e conceções do mundo se constroem, segundo o contexto e experiência de cada indivíduo. A alegoria de Platão conta que dentro de uma caverna, pessoas estavam aprisionadas, de modo que a sua única visão era a do fundo. Estes homens não conseguiam ver a luz do Sol, nem qualquer objeto fora da caverna. As únicas imagens que se tornavam nítidas eram as sombras de quem passava fora da caverna, que se projetavam na parede ao fundo.
No contexto das suas limitações iniciais os
prisioneiros tinham uma forma de olhar para o mundo e, para eles, esta forma de
ver a realidade fazia sentido. Quando um deles é libertado e levado para fora da
caverna, percebe que o que agora vê tem ainda mais sentido. Torna-se então mais
consciente do mundo que o rodeia.
Quando o prisioneiro decide voltar à caverna e conta aos
outros que existe algo além da daquele mundo das sombras, os prisioneiros não
conseguem entender o que ele tenta dizer e nem o reconhecem, pois agora ele
fazia parte das sombras.
A parte de dentro da caverna representa o mundo onde as
pessoas só conhecem a dimensão aparente, superficial e passageira das coisas e
da vida e o lado de fora simboliza o mundo abstrato, o mundo das ideias que nos
fazem compreender a verdadeira razão de ser das coisas e dos acontecimentos. O
mundo material e o mundo das ideias não podem ser separados, ambos precisam de existir
para que se possa compreender a realidade, que é feita de ambos.
A Alegoria da caverna é uma metáfora da
condição humana perante o mundo, no que diz respeito à importância do
conhecimento e da educação como formas de superação da ignorância, isto é, a
passagem do senso comum, das nossas crenças ideológicas não justificadas, dos
preconceitos que nos habitam, para uma visão do mundo e uma explicação da
realidade que é racional, crítica e fundamentada e que busca as respostas para
as grandes questões que afligem a condição humana.
Platão conclui que a
mudança provocada pelo exercício do pensamento reflexivo é necessária para
atingir a compreensão do que é o bem, a justiça, a verdade e a sensatez. Além
disso, conclui também que essa mudança é irreversível, isto é, que não é
possível voltarmos à ignorância.
Do meu ponto de vista, a análise de Platão é muito atual, porque descreve o percurso da vida, desde a ignorância acerca da realidade em que nos encontramos mergulhados até à descoberta do conhecimento experienciado por cada pessoa. Este percurso é um processo difícil, pois obriga cada um a confrontar-se e a questionar o mundo que o rodeia, havendo sempre ganhos e perdas (amizades, certezas, crenças...). Nesse caminho, a pessoa evolui na perceção que tem do mundo e na forma como se relaciona com ele, desvalorizando o seu anterior entendimento dos problemas. Enquanto crianças, assumimos as nossas influências como certezas, mas estas vão sendo questionadas à medida que vamos crescendo e entrando em contacto com outras realidades. Este é um processo, como Platão descrevia, doloroso e que requer tempo, para que nos consigamos adaptar e conhecer o verdadeiro significado do que nos afeta.
Lucas Lomba, 2018-2019
Na minha opinião, a
Alegoria da caverna continua atual. A nossa sociedade, apesar da grande
evolução que sofreu na ciência, na educação e na tecnologia, continua a ter um
pensamento orientado pelas ideologias que se vão revelando dominantes. Mas
hoje, os media, através dos aparelhos eletrónicos de que nos tornamos
dependentes, vão “formatando” as pessoas com ideias que querem “vender”. Por vezes
distorcem a realidade de tal forma que em vez de nos levarem a debater e
questionar as ideias e convicções correntes, transmitem-nas de modo a serem
automaticamente absorvidas como verdades absolutas.
Estamos a meu ver, apesar de termos mais educação, a perder o pensamento autónomo pela dependência da tecnologia. Estamos a caminhar para uma espécie robótica e formatada por meia dúzia de pensadores. No entanto, continuamos a possuir o que é necessário para procurar compreender a verdade por trás das aparências imediatas e dos interesses particulares de cada indivíduo ou grupo: a capacidade de refletir com distanciamento emocional tanto individualmente como em diálogo com outros. Assim como aconteceu com o prisioneiro que olhou para o fogo pela primeira vez, compreender os acontecimentos com objetividade é um processo doloroso, que exige dedicação e coragem, pois a realidade olhada com mais lucidez pode parecer menos clara a princípio, por estarmos acostumados a ver apenas “sombras”. Desta forma, assim como quem passa das sombras à luz, o processo de aquisição de sabedoria é gradativo e muitas vezes lento e doloroso.
Gonçalo Nova 2018-2019