Graça Morais no Soares dos Reis




A Involução



    Ao observar este quadro surgem-me algumas perguntas sem reposta. Desde logo, a falta de informação sobre a origem das causas, condições ou outros fatores da metamorfose. Outro aspeto a considerar é saber o porquê da metamorfose homem/gafanhoto. 

    Não consigo deixar de me perguntar sobre o significado da escolha do gafanhoto. Sabemos que tanto no oriente como no ocidente as pessoas se preocuparam em compreender o significado deste animal. Por exemplo no ocidente, como vemos no episódio bíblico dos hebreus no Egipto, Deus através de Moisés enviou uma praga de gafanhotos sobre os egípcios. Aqui, a praga dos gafanhotos é entendida como um castigo de Deus. No oriente, na antiga China os gafanhotos eram entendidos como um fator de prosperidade e como consequência de desordens cósmicas. O entendimento mais vulgar é considerar os gafanhotos como uma influência demoníaca, e por isso sujeitos a exorcismo. 

    Agora de volta à pintura, vê-se o que me parece ser a figura do pai, uma vez que há a tentativa de proteger a criança de algo que a assusta exteriormente, conforme vejo na expressão dos olhos da criança. 

    A criança que me parece estar passivamente ao colo do pai contempla algo que a espanta e a aterroriza, já revela sinais de metamorfose o que me leva a pensar que o que causou a metamorfose ao pai, já está a afetá-la. 

    Se pensarmos em termos de futuro, em termos de esperança, que podemos dizer? Um mundo de gafanhotos comendo e roendo tudo por onde passa, no mínimo 

morreríamos todos de fome. 

    Por outro lado, é de notar, que o gafanhoto é uma espécie inferior ao homem, portanto estaríamos em presença de involução ao contrário da evolução que todos esperamos. E é aqui o momento de perguntarmos, que esperança existiria? Onde estaria a nossa consciência, se é que se poderia falar em consciência. 

    O quadro desta pintora, reflete as preocupações do mundo de hoje perante tendências destrutivas da sociedade moderna. 

    Eu como adolescente e como músico, continuo a acreditar que o mundo se restaurará, nem que seja preciso usar um bom inseticida. 

    A música que eu associo a este quadro e a este trabalho é a sinfonia nº 5 de Gustav Mahlerpois é uma peça muito estranha, que está sempre a alternar entre movimentos de carácter trágico e sombrio e movimentos de carácter alegre e radiante o que, na minha opinião, reflete perfeitamente este quadro e, no final, funde o carácter sombrio e alegre dos movimentos anteriores, combinando assim os elementos tão diferentes da escuridão e luz que convivem na sinfonia, dando origem a um último andamento de carácter exuberante e alegre, o que vai de encontro à opinião no meu trabalho. 



 David Silva texto escrito em outubro de 2019




A Grande Purga



      No dia 25 de setembro de 2019 fui com a minha turma ao Museu Nacional Soares dos Reis ver a
ver a exposição "Metamorfoses da Humanidade" de Graça Morais. Fomos guiados pela conservadora sem coleção Dr.ª Paula Lobo que, no decorrer da visita, nos desafiou a escolher uma das obras da exposição, associá-la a uma peça musical e descrevê-la, na sua simbologia e impacto emocional.
         Eu escolhi esta obra porque foi a que mais me marcou. Quando a observei, a primeira coisa em que reparei foi a forma como as pessoas penduradas estão representadas, porque a autora em vez de desenhar o seguimento da fila, começa a desenhar riscos. 
         Na minha opinião, essa transformação é uma forma de mostrar a insignificância destas pessoas perante aquela figura que aparece em primeiro plano, representada em forma de gafanhoto, que parece estar a liderar o grupo. Esta representação fez-me lembrar o regime ditatorial, onde há um líder absoluto e soberano, que aparece em forma de gafanhoto, e um povo, representado nas pessoas penduradas, que, indefeso, deve obedecer ao seu líder sem questionar. Por outro lado, pela forma como as pessoas estão penduradas, lembrei-me das vacas no matadouro, que depois de mortas, são penduradas de forma semelhante à representada na imagem. Isto pode ser visto como uma de a autora nos tentar alertar para o problema do aquecimento global e para refletirmos sobre o problema do consumismo em excesso.
      Por fim, a peça musical que escolhi para descrever esta obra foi a 4ª sinfonia de Dmitri Shostakovich. Este compositor é de nacionalidade russa, viveu no tempo da ditadura de Joseph Stalin, e foi alvo de grande opressão por causa da sua forma de escrever música. Esta sinfonia foi escrita pouco tempo depois de Shostakovich ter aparecido num jornal que era manipulado por Stalin, o "Pravda", num artigo intitulado de "Confusão ao invés de música". Eu escolhi esta peça não só pelo contexto em que foi escrita, mas também porque é um misto de sentimentos como raiva, melancolia e até ironia.


                                                                           Manuel David Dias – texto escrito em outubro de 2019

 



Fuga aos Problemas da Sociedade




    Porque é que a nossa sociedade "foge" dos problemas em vez de os resolver?
    Eu escolhi esta obra da exposição de Graça Morais pois achei que fosse a que melhor representa os  problemas da sociedade e porque foi a obra que mais me tocou.
    Nesta obra podemos ver muitos gafanhotos, podendo eles ser refugiados, sem abrigo ou alguém que precisa de ajuda, e estão todos numa gigantesca fila para nos transmitir a ideia de que estão todos numa gigantesca fila para nos transmitir a ideia de que estão todos à espera de que o bem aconteça. E depois, temos os seres humanos tal como os conhecemos, uns com os olhos vendados (estes são os que se afastam dos problemas), outros simplesmente a olhar , e podemos ver também uma pessoa virada de perfil. 
    Aqui, o que Graça Morais nos quis dizer foi "Tu que está aí a ver os problemas acontecer, junta-te a nós, faz parte deles, anda resolvê-los, ou põe-te no lugar dos outros". A própria Graça Morais também está incluída nesta obra, pois eu penso que a pessoa que está meio escondida, que só tem metade da cara à mostra é ela, pois esta personagem está a ver o que se está a passar está simultaneamente a ver o que os espectadores fazem ou irão fazer.
    De uma certa forma a artista quis dizer PAREM com as guerras, estejam em PAZ!
    Na minha opinião, esta é a obra desta exposição que melhor nos representa, pois tal como a guia Drª Paula Lobo disse, a sociedade não resolve os problemas, mas sim afasta-se deles. 
   Se todos nós nos ajudássemos uns aos outros o mundo estaria melhor. É obvio que iria haver problemas, mas penso que iriam ser mais pequenos que os de hoje.
    A peça que escolhi para representar esta obra chama-se "Los Caminos de Lengerke" e começa com um grito, que eu associo ao desespero que sentem as pessoas que estão na fila ao procurarem a sobrevivência, casas, emprego, acabar com as guerras... Ao longo da peça há vários momentos calmos e esses para mim, são os momentos em que nós pensamos em como podemos ajudar. Os momentos mais fortes e ansiosos são os momentos de guerra, fome, angústia...
    Esta obra musical foi a que, para mim, mais se pareceu com a pintura de Graça Morais que escolhi, pois faz-me lembrar todas as etapas que os refugiados passam, como numa via-sacra...


                                                                         Margarida Ribeiro texto escrito em outubro de 2019




The Reality of Refugee


        The work I chose is one in whch we can see a child on the lap of a figure that is turning into a grasshopper.
        I chose this work because it was the one that touched me the most because the image i associate is the frightening and fearful look of a fragile, defenceless child who seeks safety near the person who protects her the most. As many families of refugees and migrants only wish to reach a safe place. They want to flee theiir warring countries, taking with themtheir proceious possession, the family.
        Then I associated the bearded child on the picture with an adult because it is important to that we can perceive the fear that refugees feel is similar to that of a child, until their arrival, in Europe they will lose their children or their family and suffering will always be associated with their escape.
        In this image we can also associate the child´s fear seeing a person whom he is very fond of, becoming a refugee, that is they are running out of their own home and this causes stressful feeling, constant distress..
        On the other hand, I think the painter is trying to convey the fear and anguish that the various families of refugees and migrants go through when they arrive in different countries whose habits, languages and customs are totally new. Moreover, in many of these countries they are seen as foreign plagues, so I associatebecoming the grasshopper with bad events relatedtheeir arrival in large numbers
                                                                                                    
                                                                              Mariana Costa texto escrito em outubro de 2019




A Música na Expressão Plástica: Arte e Reflexão Filosófica

Eu fui, no dia 4 de outubro de 2019, ver a exposição “Metamorfoses da Humanidade” de Graça Morais, no Museu Soares dos Reis, onde fui amavelmente guiada pela conservadora sem coleção, Dr.ª Paula Lobo, que me deu umas luzes sobre o excelente trabalho da artista.

Graça Morais, a meu ver, é uma artista ativista, pois o que pretende com as suas obras é fazer com que quem as vê se sinta sensibilizado e minimamente preocupado com o tema das suas criações. A artista, nesta exposição, usa muito o preto e o branco, para dar intensidade às suas obras, por serem cores neutras e mais dramáticas. “Os artistas ativistas não deixam as coisas simplesmente acontecer e não se fecham numa redoma, e só querem tocar valsas que é uma dança ótima para o convívio para a festa para acertar o passo com o parceiro, e há artistas que querem denunciar problemas para os quais não têm solução mas face aos quais não podem ficar indiferentes, e Graça Morais está empenhada em espicaçar-nos pois ela quer que nos incomode e nos toque e que não saiamos da sua exposição indiferentes ”-palavras da conservadora sem coleção Paula Lobo. A artista por ter colaborado, como ilustradora de obras, com poetas e escritores mostra a sua versatilidade nas ilustrações que integram esta mostra, o que me faz querer ver mais obras dela.

Foi-me proposto escolher um dos belíssimos quadros para sobre ele escrever mas, depois de os observar a todos, escolher foi a parte mais difícil porque todos me tocaram de maneiras diferentes mas igualmente profundas no seu significado. Sendo assim e fiquei dividida entre dois que para mim têm muito sentimento.

O primeiro quadro que me chamou a atenção foi o que, exemplifica lindamente o medo sentido pelas crianças em tempos difíceis, seja guerra, fome, crise ou a mudança de país. O que é que nesta obra nos” puxa tanto para entrar na sua alma?”. Na minha opinião, os olhos de medo em momentos de crise, olhos já sem esperança, é o que me “chama“ a refletir e a querer sentir cada vez mais os acontecimentos por detrás daquela obra de arte.

Esta criança quase que nos chama e pede ajuda; e depois de a observar com distanciamento, váriasúvidas me chegam à cabeça: o que será que está a acontecer de errado? Que sítio será aquele onde tudo acontece? Que cheiro e que cores terá? Para responder a todas essas questões terei de imaginar tudo isso e tentar sentir aquilo que a artista sentiu ao desenhar a sua criação.

A primeira música orquestral que me atravessou o pensamento para acompanhar este quadro foi Mozart - Requiem in D minor pois assim que vi o desenho de Graça Morais imaginei esta obra musical como a sua banda sonora, pois tem muita intensidade tal como a obra plástica com que acho que se relaciona e quando, na música, começa a parte coral ainda caracteriza mais aquilo que senti ao ver a obra plástica.

O segundo quadro da exposição que mais me fez pensar e me tocou, não percebi logo a sua mensagem. Pois o seu aspeto agressivo esconde o seu verdadeiro

significado, que é na realidade um ato de carinho. A pintura mostra a proteção e a ajuda que é preciso nos momentos difíceis. Para esta, a música que me ocorreu pela sua complexidade e pela mensagem profunda que eu interpretei foi a Sinfonía nº 3 Op. 55. II-Marcha Fúnebre. Esta obra de Beethoven é uma marcha fúnebre, mas em que se percebe algum tipo de pedido de socorro e de ajuda o qual é também percetível em toda a obra de Graça Morais. “A atividade plástica é para ser observada e ser vivida por dentro tal como a música é para ser vivida e ouvida” - palavras da conservadora sem coleção Paula Azeredo.

Em suma, as obras de Graça Morais não são de fácil compreensão, pois, é necessária alguma reflexão para conseguir entender o seu real significado. Talvez por isso, no início, ainda sem grande informação, fiquei indiferente a algumas das suas obras, mas depois de as entender fiquei com outra visão, mais positiva, do seu trabalho.


                                Rita Silva texto escrito em outubro de 2019




Metamorfoses da Humanidade


        A exposição “Metamorfoses da Humanidade” reúne um grande número de imagens produzidas por Graça Morais, mas para mim a imagem que se segue é a mais chocante. É aquela que melhor representa a mensagem que a autora quer transmitir. 

     A alma do trabalho, está definitivamente nos olhos da criança. Destes transbordam o medo, a tristeza, e a confusão que sente. A mãe é o seu escudo, é a quem se abraça para se proteger da transformação que ambasabem que vai acontecer e que vai mudar as suas vidas. 

       A mãe já se encontra em transformação, mas mesmo assim segura o filho e tranquiliza-o porque não importa o que aconteça, ela vai ser sempre o muro que o protege de todas as adversidades do futuro. 

       Para acrescentar ainda mais vida ao maravilhoso desenho de Graça Morais, relacionei esta obra visual com uma obra musical fantástica do compositor Carl Orff.  

        A Obra, “Carmina Burana”, (andamento I e II; Cestá ligada mais uma vez aos olhos explosivos do rapaz e ao misto de sensações que deles transparecem. É simplesmente incrível, deslumbrante e tira o fôlego a qualquer um. As partes contrastantes da música são perfeitas para os dois casos apresentados nas imagens. Nas partes agressivas da música está representado o pânico demonstrado pelo rapaz e o furacão que é esta transformação e nas partes calmas estão representadas a paz que a mãe transmite ao filho e a esperança de que no fim tudo corra bem. A obra em si representa a vida humana e as suas constantes mudanças. 

       O contexto real em que se encontra a imagem é um assunto deveras perturbador. Representa os refugiados e migrantes que partem para o desconhecido em busca de uma transformação nas suas vidas, que na maioria das vezes é assustadora e em que a sua única razão de viver é a proteção daqueles que amam. Tal como acontece com a mãe representada no desenho, que acusa já efeitos da transformação, mas que faz de tudo para que o filho não sinta as consequências da mesma.



Sofia Carvalho Costa - texto escrito em outubro de 2019





Solidão, Satie e metamorfoses


 

             A obra da exposição de Graça Morais que escolhi analisar representa uma figura isolada, encolhida sobre si própria, numa fase de metamorfose. A figura olha fixamente e sem expressão mas não para nós, apesar de estar virada na nossa direção. Em vez disso, está perdida num mundo diferente do nosso, o qual não conseguimos compreender nem imaginar.  

            A dimensão de onde provém esta figura, que com os olhos grandes e redondos sugere ser uma criança, é uma realidade de dor e sofrimento. O contraste chocante entre o branco e o preto, e a tinta que cobre a maior parte da figura em sombra e escuro deixa a ideia de violência e guerra, e faz com que a personagem pareça dorida e desgastada. Os olhos assemelham-se aos de um animal assustado mas ao mesmo tempo parecem não ver realmente o que está à volta, quase como se as experiências que a figura viveu a tivessem tornado incapaz de compreender o que a rodeia.  

Para mim, a obra sugere uma criança proveniente de uma situação de guerra ou violência, cujas vivências a deixaram quebrada e a sofrer. Representa milhares de migrantes e refugiados que fogem de situações destas e que necessitam de ajuda. Porém, a figura representada na imagem está em metamorfose, transformando-se numa criatura monstruosa, numa praga terrível, pois esta é a maneira como os refugiados e migrantes são vistos por muitas pessoas. A criança senta-se silenciosa, sem controlo sobre esta metamorfose e quase como que a aceitar esta representação de algo perigoso e estranho. Mas não nos olha nos olhos, pois nós traímo-la e nós somos a causa desta metamorfose. 

 A melancolia e tristeza desta obra, e também o sentimento de inevitabilidade do sofrimento que a figura mostra faz-me associá-la à peça musical “Gnossienne nº1” de Erik Satie. A peça expressa um sentimento de solidão que esta obra de Graça Morais também invoca em mim.



Roberta Bone – texto escrito em outubro de 2019





Os Múltiplos Reflexos dos nossos Medos




        A pintora contemporânea Graça Morais, elaborou uma série de oitenta quadros nos quais retratou a figura humana e a sua condição. Os protagonistas desta exposição foram as vítimas de toda a convulsão global, nomeadamente migrantes e refugiados.
        Nos quadros desta exposição as personagens aparecem isoladas ou em grupo e maioritariamente com formas animalescas ou mutantes. As obras oferecem-nos, à semelhança de um espelho partido, os múltiplos reflexos dos nossos medos: a guerra, a exclusão, a perda, a fome e a morte.

      No quadro que escolhi conseguimos observar duas pessoas que possivelmente têm uma relação próxima: pai e filho(a). O olhar e a expressão da criança transmitem medo e tristeza, sugerindo alguma inocência por parte da mesma perante a situação e clima a que é sujeita. Posso ainda acrescentar que olhando à sua volta, a criança pensa que nada daquilo está certo e que o mundo, pelos seus ideais, não devesse ser assim. Por outro lado, o pai parece estar de uma forma firme e rígida a tentar proteger o(a) filho(a) de toda aquela confusão.
        A sensação de raiva e frustração presenta naquelas duas pessoas, em especial do pai por ter de lutar e sobreviver para dar o melhor ao(à) seu(sua) filho(a) numa situação desfavorável, é reforçada pela pintora através de riscos e linhas incostantes com que preenche o quadro. 
        Penso que com estas linhas que muitas vezes acabam por se tornar em riscos intermitentes, Graça Morais tentou expressar o sofrimento e o cansaço sentido por todas as pessoas que são sujeitas a este tipo de situações no quotidiano. Tudo isto se enquandra nos sentimentos gerais transmitidos pelas várias obras, não esquecendo a angústica de todos e a incerteza no dia de amanhã.
        Depois de vera exposição no Museu Soares dos Reis, este foi o quadro com que mais me identifiquei talvez por lhe ter, logo desde o ínicio, associado a uma obra do compositor Béla Bartók. A obra tem como título "Music for Strings, Percussion and Celesta"(https://youtu.be/m129k5YcQnU).
        A meu ver encaixa-se no contexto desta pintura e também das restantes obras pelo facto do próprio compositor húngaro do século XX ter abandonado o seu país durante a segunra guerra mundial, tendo-se mudado para os Estados Unidos.
 

                                                                           Maria Leonor Paiva – texto escrito em outubro de 2019



The Silence of the Lambs


 

        Over time, most artists have essentially failed to represent in their works the materialization of beauty and topics such as the beliefs of their time, and have come to portray the transgression of respect for socially prevailing standards of values.

        In her most recent exhibition, “Metamorfoses da Humanidade”, Graça Morais presents us a set of paintings and drawings that reflect many of our greatest fears, including war, hunger, social exclusion, loss and death, while approaching one of the most controversial issues of today's society: the refugees.

        Although the theme of the exhibition seems to focus only on this phenomenon, it is possible to discover, throughout the continuous analysis of this work, our relationship with each of the presented situations, and to digress by the various interpretations that each of the works may originate.

        However, it is normal and usual for each to relate to artistic objects in their own way, differentiating one’s views from their peers’, which leads me to consider the following question: do our socioeconomic condition, culture, education, and our innate sensitivity along with what all these factors have provided us with, affect the way we perceive, live, and feel art?

        I am sure to answer “yes”, when I say that I interpret any art form in a unique way, reflecting my experience and the conditions and environment in which I am inserted. For example, surely having a home, having food, attending school, living in a peaceful country will give me a different perspective than a young woman who lives without any comfort and in a third world country without any security.

        As the title of the exhibition indicates, the theme of this set of paintings by Graça Morais is the metamorphosis of the human being in certain scenarios, with a special (and almost total) focus on the refugee crisis, a theme that involves us all. Metamorphosis is, in its figurative sense, transformation. In this set of works we can follow the change of the group of people previously mentioned before the miserable and inhuman conditions to which they were subjected. In the work selected by me, it is possible to observe the final phase of the transformation of a Human Being into a grasshopper, the metamorphosis that is present throughout the exhibition. In this painting, the creature has already lost most of its human form, being now almost entirely this dual/ambivalent insect – the Grasshoppers are very appreciated as food in the East, and so they are classified as a prey; however, when they are in group, they are stealthy predators capable of massive power attacks and are also a plague. Using this insect as a result of human metamorphosis, Graça Morais expresses the antithesis of the results of refugee transformation: they can become both easy and fragile targets, as well as a capable and angry group.

        I interpret this painting as the last alternative of someone in despair; someone who has witnessed traumatic/distressful moments such as living in a country at war; like hunger, loneliness and exclusion.         Over the past few years, the EU has received millions of asylum applications and has rescued numerous displaced migrant vessels and groups. Of course, there is that percentage of lucky people who can make it to Europe or to a safe country, but what about after that? As much as it costs me to say, the after is a sad reality. Yes, people are in peaceful territory; yes, they do not see others die before them every moment; yes, they are being helped... But yes, most remain alone, alone in the crowd, victims of discrimination by people who have everything and do not value it; continue they will have experienced seeing their family, friends, etc. dead; still unable to go to their home country; continue to have their culture renegade/rejected. The truth is that many of the "requests"/ “candidates” craving for European sanctuary died trying to reach it; few have this privilege. (I briefly recall one of the cases that shocked the world: a photograph of a baby who came dead to the coast.) Even before this stage, few have the opportunity to even try to seek asylum, to try to leave the country; but there are many who die victims of a struggle that is not theirs and that see family, friends, innocent children die; starving, cold, thirsty, alone and without means of defence.

        These people live in survival mode; they are already transformed, some more than others; the only question left is which way to go from here: to be a prey or a predator? That is the choice of everyone who goes through this kind of situation. I see this picture as a representation of someone / something who has suffered greatly with all the events around him, and has lost so much that defeat has taken place; that it is so empty and yet so full that doesn't even know what to do; which, as we can see from the disfigurement of the painted Being, has lost its identity, is one more in this 'global upheaval'. Considering this, the question I ask is: Are we, the privileged people who do not live in war and in the middle of death and disaster, simple spectators? Can't our attitude really make a difference? I believe we can make a difference. Each of us may not achieve anything alone, but together we are billions that can change everything. If anyone here can reverse the game, it is not the incapable victims who are 'pushed into an uncertain future' or who causes the damage (because they clearly have a lack of wisdom, intelligence or notion of the concept of human rights); they are those who reserve themselves the place of observers and judges. As a personal opinion, I just say: Well, if you think so, do something to change.         We are all the same, we are all human.

        The musical piece that the work suggests to me is 4'33 by John Cage.

        I associate this piece by John Cage with Graça Morais' selected work for two reasons:

- Silence is an intrinsic condition in the life of a refugee / ex-patriate, as he has no active voice and no decision power of what will happen in his future.

- the play questions the various paradigms of humanity (as this song questions those of music - which is supposedly an organized series of notes), in order to make us absorb everything that surrounds us, being aware of the smallest details, and consequently provoking, in the observer / spectator, not only a personal and / or collective expectation, but also (and in reaction to this fact) a possible metamorphism in which we find ourselves confronted with our own genesis. Cage wrote this piece in order to get the audience to focus on what was around him during the orchestra's silence, giving rise to different ideas and actions by each of the listeners. And, in my opinion, metamorphosis has these same characteristics: to absorb and form something in the face of reflection within ourselves about/concerning what/everything that surrounds us.

Maria Luís Guimarães - texto escrito em outubro de 2019



The Masks of Fear

        This work made me see the despair and fear that the child is feeling when the mother  is turning into a grasshopper. We can see animal parts coming out of her body, like the paws and we also notice that the head, is progressing into that of a grasshopper. The image caused distress, for the child has an expression of fear and is looking down to see the transformation that is happening to the mother’s body. 

        In the child's face, we can see the fear she is experiencing as the other character undergoes this transformation.  This fear is stressed from the fact that the painter highlighted lips in the picture so as to emphasize pain and suffering. 

        I think the image relateto migrants and refugees as they leave their lands abandoning their belongings in search of an uncertain life to escape wars, violent conflicts, which never end and are always hurting their humanitybeing poverty and  lonely the most common afflictions. 

        In my opinion, the painter draws grasshopper paws to compare the situations of these people who are always bouncing back and forth in search of a better life, subjecting themselves to displacement and to carry the weight of their belongings, with their families and often  with children on their arms, no matter how hard it may be to go through all the obstacles just to achieve peace and better life in other countries. 
        The disfigurement of the child's face is to compare hunger, disease, fear, sadness that refugees and migrants experience, manifesting in the disfigurement of their faces and bodies portraying people with animal resemblances. 
        In the future these traumas and changes will reflect on learning and growth, especially in children and adults, the feeling of segregation, fears, self-enclosure and other traumas.  

        This work makes me think of the difficulties that all migrants and refugees go through just to have peace in their lives and the torture they have to stand to achieve it. 

        This painting reminds me the music Summer in Vivaldi's 1st musical tempo; this composition conveys a sense of discovery very similar to the child’s when facing the metamorphosis that is happening in his own body. The distress and fear in the child’s face recall the moments of the song in which the rhythm develops. The painting witnesses the efforts and anguishes migrants have to endure to reach some peace in their lives. 



                                                                                Cristiana Diogo - texto escrito em outubro de 2019





Uma Morte Lenta

        Na exposição, questionei-me sobre as cores presentes em todas as obras, preto e branco. Após uma reflexão pessoal, percebi que estas sombras transmitiam medo, terror e opressão.

        A obra que escolhi não é diferente. Apresenta duas pessoas, uma criança e um adulto, já numa fase de metamorfose. O pormenor que intensifica o efeito dos riscos e sombras, é a face do menino, que revela medo e insegurança, com o olhar a pedir ajuda. Por outro lado, temos um homem adulto, muito sombrio que pode, tal como se vê no próprio quadro, ser interpretado como um abusador (pedófilo) que agarra a criança e a envolve com as suas patas de gafanhoto.

        A metamorfose na criança reflete o que ela está a sentir, como vítima, pois está a perder a sua dignidade e a sua inocência que é a sua parte humana, transformando-se num gafanhoto como o homem sombrio.

        O Requiem de Mozart reflete isso mesmo – a morte lenta da criança.

Gonçalo Nova –texto escrito em outubro de 2019




A Tenebrosa Realidade da Metamorfose Humana

            No âmbito de uma visita de estudo, realizada no museu Soares dos Reis, de tema “Metamorfoses da Humanidade”, tomei conhecimento de obras de artes plásticas da autoria de Graça Morais. Durante esta mostra, com uma intenção crítica e perturbadora da consciência dos espectadores, foi proposta à turma a escolha de uma das obras expostas e uma análise crítica e pessoal da mesma, assim como o desafio de associar uma obra musical à imagem escolhida.

A exposição contém obras apenas em carvão ou obras onde as cores predominantes são o azul, o preto ou, por vezes, tons amarelos. Mostra um lado negro do ser humano. Alguns dos desenhos tentavam chamar a atenção e intimidar o visitante, com as imagens representadas sobre fundos grandes e espaçosas. São obras muito expressivas. A escolhida por mim foi pintada numa tela muito pequena mas foi de todas elas a que mais me chamou a atenção. É uma daquelas obras em que nos é difícil evitar refletir pois as interpretações e os sentimentos que a obra transmite são incontáveis.

            O fundo preto, assim como todos os detalhes, faz com que quem vê fique absorvido pela tela. Observa-se um homem magro a carregar um ser gigante, disforme. Um dos aspetos que mais cativa é o braço negro do indivíduo que, segurando com todas as forças o ser gigante, desgasta assim o braço. Este ser tem pernas mas, no entanto, não anda, provavelmente não se dando ao esforço de aguentar o seu peso abismal. Mas ele tem olhos e consegue ver a dor que causa ao ser transportado. Ainda assim, prefere fechá-los e não pensar sobre isso. Por outro lado, a expressão de quem o carrega não se vê. Ainda assim, toda a cor faz com que o observador não fique subjugado por todos os sentimentos negativos e pesarosos que o indivíduo que carrega sente e esse é um dos motivos porque a obra é fascinante. Ao contrário das outras, não é preciso observar a expressão do personagem, pois o ambiente tenso e tenebroso, por si só, já transmite tudo. As pernas finas de quem carrega mostram a sua fragilidade. Vê-se o tempo demorado e o sofrimento longo nos pelos grandes e pintados compulsivamente. É uma obra que necessita de uma grande observação para perceber que todos os detalhes, na forma aparentemente violenta como foram pintados, têm um sentido e significado por detrás.

            Tendo em conta o tema da exposição, “Metamorfoses da Humanidade”, e a sua intenção de crítica à sociedade, esta obra cumpre o seu papel na plenitude. Vê-se o grande desejo de domínio que o ser humano tem. Os ricos que ficam mais ricos à custa dos pobres, recusando qualquer dignidade a quem os carrega. No entanto, nota-se também a esperança, o sofrimento silencioso mas resistente de quem carrega e é dominado. Além do braço escuro e cansado, também o grande olho do ser cativa. Voltando à metáfora, está implícita a crítica aos dominadores que podiam muito bem ter mais sensatez para com os pobres e os submissos, pois quem domina tem olhos, muitas vezes maiores e mais informados que os restantes. Têm também cabeça, pois sabem muito bem o que fazem. No entanto, os sentimentos da ganância, da avareza, da preguiça e da repressão cegam-nos e acabam por não agir com sentido de justiça e humanidade. Assim, Graça Morais critica explicitamente os defeitos mais tenebrosos do ser humano, comparando-o ao gafanhoto predador que na natureza mata e decapita os da sua própria espécie. Portanto, tenta chamar a atenção para a metamorfose, pois graças aos defeitos naturais do ser humano, qualquer um de nós cai na tentação destes sentimentos repressivos e facilmente se transforma num “gafanhoto”, algo que grande parte daqueles que controlam e governam não consegue evitar.

            Apesar de tudo, é uma mostra pequena e de conteúdo introvertido, mas com muito para dizer. Bach também. Grande parte do público clássico gosta de ir a um concerto e ver grande virtuosidade técnica por parte dos músicos. No entanto, a obra musical por mim escolhida transmite muito bem todos os sentimentos íntimos, de sofrimento, esperança e lamento que até aqui referi. Bach faz-nos entrar num mundo de reflexão e intimidade com a música, onde o ‘show-off’, o exibicionismo e a superficialidade não têm lugar. Simples mas profundo, muito difícil de tocar mas com uma complexidade que nem toda a gente consegue perceber ou apreciar. Também transmite o sentimento de esperança pois, apesar do lamento e dos obstáculos que aparecem, a música continua e avança. Grande parte dos espectadores também não se detém para observar melhor esta obra visual, preferindo avançar para outras. Mesmo assim, quando pedi a um dos meus colegas para ver melhor, ele ficou perturbado e não conseguia continuar a observar. Pelo contrário, eu, depois de entrar no fundo preto e nos detalhes, senti a mente a relaxar-se e a deixar-se ir no movimento que a artista expressa. Do mesmo modo, ouvir Bach tem precisamente esse efeito.

            Para concluir, achei muito interessante esta obra e a exposição no geral, e imaginar a peça de Bach escolhida (Prelúdio e Fuga nº4, livro 1) enquanto se observa este quadro é juntar em sintonia dois mundos artísticos que muito têm a dizer-nos. Foi bastante construtivo desenvolver esta reflexão, pois obriga a deformarmos os nossos padrões do belo para apreciar algo que não é habitual ver e ouvir.

Lucas Lomba – texto escrito em outubro de 2019




In Search of a Better Life


        On 25th September 2019, I went, along with my classmates and Philosophy and History of Arts Culture teachers to see the exhibition “Humanity Metamorphosis” by Graça Morais. Our visited was guided by Doc. Paula Lobo who gave us an idea: she challenged us to enter the world that Graça Morais painted and to interpret the message that every drawing transmitted us.

        The main topic about this exhibition are the migrants and refugees, who have abandoned their home in search for the best life conditions. Although, sometimes, what awaits them is a complicated journey, loaded with pain and suffering.

        During the visit, I was specially touched by one painting. In it, a protective figure is represented (in my opinion, a mother) who is turning into a grasshopper. In her arms, we can observe a child that expresses a certain terror in his face. In my opinion, surrounding the child is something terrible happening and he is looking for comfort and shelter in his mother’s arms.

        The most intriguing part about this is the fact that the protective figure is transitioning/ changing into a grasshopper; this makes us understand that these animals represent “good people” in society. However, there is another painting in which the grasshopper represents a “bad person”. On that painting, we can find a group of men, without a face, lined up against a wall, while they are submissive to a grasshopper that looks at them as if their future is in its hands.

        This contrast between these two drawings invites us to consider that, at a certain time, we can’t separate the “good guys” from the “bad guys”. We start thinking: are the refugees really the bad ones, who are coming to destroy our country and our economic system? Or are we the bad people, with our stereotypes, that decide to, for example, reject a child from entering our country because he/she might steal someone’s job in the future when all he/she wants is to restart his/her life away from war?

        I connect this painting with the song A.M.OR by Pedro Abrunhosa because I think that the  feelings of maternal love and closeness the mother so strongly embodies  holding her son  should be similar to those we feel for the poor crowds of people who walk such a painful path to escape their homeland where love has long been replaced by hatred.  

        The exhibition “Humanity Metamorphosis” is full of paintings with opposite messages that make us think in which direction humanity is heading. If we pay close attention to what Graça Morais represents, we can assume that there are not extremes, in other words, the good and the bad are inside each and every one of us and we don’t always act the same way. In fact, each one of us has a humanitarian or selfish characteristic depending on our life situation, a personal convenience or that of a group. Our altruistic side does not always determine our actions, in other words, our personality if is suffering metamorphosis during our life.


Inês Almeida - texto escrito em outubro de 2019





Renascer


        No âmbito de uma “aula no exterior” de Filosofia, Inglês e História da Cultura e das Artes, tive a oportunidade de apreciar um conjunto de obras de Graça Morais, numa exposição sobre “Metamorfoses da Humanidade” 

        Uma obra chamou-me especialmente atenção. Nesta estão representados dois corpos abraçados: um parece ser ainda um corpo humano e outro já está numa clara fase de metamorfose. O humano-gafanhoto dobra-se sobre o corpo humano, que se encontra ajoelhado, remetendo para uma demonstração de humildade e ajuda, sem preconceitos. Todas as obras da exposição estão em preto e branco e esta não é exceção.  

        A Conservadora que nos guiou durante a experiência sugeriu entrarmos dentro de uma obra e imaginarmos como seriam as cores, os cheiros e os sons. Na minha interpretação seria o nascer do sol, com o céu rosado e imagino os dois corpos num descampado, em silêncio, onde só se ouvem as respirações e os corações deles a bater. Esta simplicidade e falta de elementos na minha descrição deriva do quão forte e impactante é para mim a ação de apenas abraçar, é uma conexão entre corpos, que torna tudo o que está à volta pouco relevante. Mencionei o nascer do dia pois esta parte do dia transmite-me calma, assim como este quadro, mas não só. O nascer do dia é também uma metáfora para uma nova oportunidade e para a esperança que está presente no quadro. A fragilidade das pernas do humano não o fez desistir de se levantar de novo ou pelo menos de tentar. 

        Tomei a liberdade de nomear esta pintura “Renascer” pois foi assim que me fez sentir, com um certo conforto e paz. Também associei a obra à “Serenade” de Schubert (arranjo por Liszt) pela semelhança de emoções que eu sinto ao ouvir e ver as peças de arte de Schubert-Liszt e Graça Morais.



Catarina Canto Moniz – texto escrito em outubro de 2019 




Quando a Arte Combate a Desigualdade e os Preconceitos

Esta obra foi feita por Graça Morais no ano de 2018 e pertence à exposição “Metamorfoses da Humanidade”. Nesta obra, Graça Morais utiliza apenas o preto e branco como em quase todas as outras obras da exposição. Utiliza o carvão sobre o papel, utilizando principalmente técnicas como o contorno e a linha.

Nesta obra existem duas figuras, um pai e um filho. Estas representam os milhares de migrantes e refugiados que deixam o seu país e caminham em direção ao desconhecido, envoltos pelo medo perante a incerteza do futuro. As personagens adquirem formas animalescas e mutantes, como é o caso do pai que se está a transformar num gafanhoto, possuindo já braços, pescoço e olhos de gafanhoto e uma boca no processo de metamorfose.

Esta obra reflete os nossos medos como o medo da guerra, da exclusão, de conflitos, da morte. As caras das personagens transmitem uma sensação de tristeza e desalento, culminando na expressão de horror presente nos olhos da criança que nos fita de uma forma intensa ao mesmo tempo que parece que vê através de nós e que nos acorda para este problema atual. Para isso, Graça Morais desenha estas figuras com muito poucos detalhes e com traços pouco delicados, chegando mesmo a ser bruscos, provocando um desconforto ao olhar. Mas é no meio deste caos e horror que emergem algumas das emoções mais profundas do ser humano como a empatia, o amor, a compaixão, neste caso, a relação entre um pai e um filho.

Eu associo esta obra à Chaconne de Bach, o quinto andamento da segunda Partita para violino solo (https://www.youtube.com/watch?v=HEbi-7tPaqo). Nesta peça, assim como nos trabalhos de Graça Morais, estão presentes todas as emoções humanas, desde a tristeza e desalento à alegria, à esperança e ao triunfo.

A obra de Graça Morais transmite simultaneamente a grandeza e a fragilidade do ser humano que, embora seja capaz de grandes coisas como a arte e a ciência, não passa de uma espécie parcialmente evoluída entre uma miríade de outras espécies. Assim, tal como os outros animais, o ser humano possui uma dupla componente: por um lado consegue ser extremamente afectivo e empático mas, por outro, deseja constantemente o controlo e humilhação de outros grupos, a guerra, o confronto.

Acho a mensagem desta obra bastante importante: a de que nos devemos emancipar da nossa condição animalesca que aparece sob a forma de preconceito e desprezo para com pessoas diferentes, uma espécie de tribalismo, e trabalhar em conjunto para um mundo de inclusão e igualdade, lutando pelos direitos das minorias, dos refugiados e migrantes, das mulheres, da comunidade LGBT que, lamentavelmente, em pleno século XXI continuam a ser marginalizados e vítimas de fortes desigualdades e injustiças. Infelizmente, contra esta tentativa de libertação, opõem-se sempre os regimes ditatoriais, a extrema-direita e principalmente as religiões que constantemente e arrogantemente fazem tudo ao seu alcance para se certificarem de que tal condição seja inalcançável e que pretendem estabelecer uma sociedade baseada em princípios e valores medievais, primitivos e completamente desajustados daquilo que a Humanidade precisa atualmente.

Assim, acho que devíamos enfrentar a realidade tal como ela é. Somos apenas mais uma espécie que habita num pequeno planeta que flutua na imensa vastidão do espaço, completamente aterrorizados com a ideia de que vamos morrer e de que não vamos voltar.

Dada a efemeridade da nossa vida, devíamos aproveitar o pouco tempo que aqui estamos para fazer o máximo que conseguirmos para atingirmos uma sociedade livre, sem preconceitos e desigualdades e tornar essa situação permanente

Gonçalo Sousa – texto escrito em outubro de 2019






Um Olhar de Esperança

         As populações ocidentais são responsáveis pela situação que afeta os migrantes e refugiados atualmente? Ou simplesmente permanecem indiferentes a este problema que afeta milhões? 

           Na obra da exposição que escolhi, evidenciei alguns aspetos que me puseram a pensar sobre a situação social dos refugiados atualmente. 

            Para começar, a utilização exclusiva de grafite muito leve na obra remeteu-me de imediato para a humildade e a vulnerabilidade do sujeito retratado. Este encontrava-se de certo modo metamorfizado como o resto das figuras da exposição mas senti que era uma metamorfose um pouco diferente das outras pois havia um elemento mais sobressalente que o gafanhoto: a ideia de morte ou inferno. Penso que esta ideia tão pesada é retratada de propósito pela artista para apontar a pobre situação social em que vivem os refugiados, nos dias de hoje, e que é ignorada pelas populações ocidentais, apesar da divulgação do assunto pelos meios de comunicação. 

      As condições precárias e a sobrelotação que se vivencia nos campos de refugiados são uma violação dos direitos destas pessoas que são, diariamente, vítimas de conflitos e mesmo assim organizam manifestações em busca de melhores condições de vida. E a pior parte deste cenário é a quantidade de pessoas que são submetidas a este «inferno» - que é retratado na obra que escolhi. Segundo a PAR (Plataforma de Apoio aos Refugiados), de 65 milhões de pessoas deslocadas no mundo inteiro, 22 milhões são refugiados e metade desses são crianças. Trata-se da maior crise humanitária desde a 2ª Guerra Mundial. 

        Resumidamente, considero que as populações ocidentais são em parte responsáveis por esta situação pois demonstram para com estas pessoas um elevado grau de indiferença que se encontra bem espelhado nas precárias condições de vida que lhes disponibilizam. 

           A peça que escolhi para acompanhar a obra é a 5ª Sinfonia de Beethoven, pelo carácter poderoso e contrastante entre os seus andamentos que, de certo modo, me fez lembrar a vida atribulada do sujeito retratado no quadro, a vida de refugiado. 

         De qualquer maneira, apesar de considerar que a obra que escolhi retrata o inferno vivido pelos refugiados, também interpreto o olhar do sujeito artístico como um olhar de esperança, um olhar no futuro e no que poderá vir de melhor a estas pessoas. 



                                                                     António Narciso – texto escrito em outubro de 2019 






Life of a Refugee


         Two weeks agoI went on a school visit with my class and some of my teachers to the national museum Soares dos Reis in Porto. We went there to see an exhibition of Graça Morais’ recent work, “Metamorfoses da Humanidade”. We were guided by the museum curator, Dr. Paula Lobo who talked about the paintings and invited us to interpret the messages behind the artist’s work. 

         From all the paintings, there was one that caught my attention because of the message it passed/conveyed .  

         Besides the presence of the grasshopper, as in the other pictures of the exhibition, there was something else I interpreted: a certain vulnerability of the subject portrayed who was being submitted to some kind of evil force – exactly what is happening with refugees nowadays and all the situations they are going through. 

         Many people found the exhibition shocking and violent but that is exactly the artist´s purpose because she wants to show everyone the reality refugees are living in to make sure we are aware of what is happening out there. This message wasn’t indifferent to me and that is why I believe Graça Morais did an amazing job! 

 António Narciso – texto escrito em outubro de 2019






Family Losses



During the exhibition “Metamorphosis of Humanity”, by Graça Morais, I had the opportunity to observe and interact with many paintings ; one in particular aroused more my curiosity, and it allowed me to interact and connect more with the painter and her work . According to the interpretation made by Conservadora Sem Coleção Dra. Paula Lobo, this painting represents a son wrapped in his mother’s arms while she was starting the metamorphosis process. She was turning into a grasshopper. When the transformations started such as the apparition of the transformations of the arms into grasshopper’s paws, the little boy got really scared. Maybe it was because of the realism in the kid’s expression that made me feel a different thing while I observing the pain. 

After observing it, I associated the painting with the piece “Adios Nonino” written by Astor Piazzolla. This music is about the feelings of a boy who had lost his father. Dra. Paula always said “try to get in the painting. Don’t be afraid of it!”. When I managed it, I could feel not only fear, but pain, suffering and rage as well and these are some of the emotions that “Adios Nonino” can also suggest. 

This way, I found a few elements that made me establish a connection between these two pieces of art.  

 Beatriz Loureiro – texto escrito em outubro de 2019






O Abraço Desconfortável


        Podemos ver na imagem um menino que está a ser abraçado por um ser que em tempos poderá ter sido humano, mas que já não aparenta essa estrutura. 

        Na minha opinião, o “ser” está a sofrer, no momento, algumas alterações no seu corposendo meio humano meio gafanhoto, causando ao miúdo algum pânico como se vê na expressão que ele faz quando se apercebe do sucedido. 

        Eu escolhi esta imagem pois foi a que mais me chocou por se ver o terror no olhar do menino e se perceber que não há só aspetos positivos em algumas situações, pois há sempre algum aspeto negativo que está presente em todas elas. 

        Como foi dito na visita pela Doutora Paula Lobo, o gafanhoto pode não só representar aspetos positivos, mas também negativos. O gafanhoto trata-se de ser é uma espécie animal que consegue proliferar e infestar muito rapidamente, sendo esse o motivo pelo qual foi usado nesta exposição como se estivesse a “governar” a raça humana. 

        A maior parte do público que vem ver estexposição, afirma não ter gostado dos desenhos pois a sensação que dão, como nos foi transmitido pela Doutora Drª Paula Lobo, é de desconforto, causando assim, em algumas pessoas, um impacto negativo pela forma como é visto. 

        O que eu penso sobre o assunto é que, de facto, causa algum desconforto ao início mas se virmos por outra perspetiva acabamos por perceber o que a artista Graça Morais quis comunicar. 

Moszkowski Étude Op.72 No.

        Escolhi este estudo pois faz-me sentir como se estivesse num clima de stress e até mesmo de terror. E acho que se adequa a este quadro, pois faz-me sentir desconfortável pelo seu ambiente de stress. 


                                                                       
                                                                   Ana Carolina Moura – texto escrito em outubro de 2019 






Folha de Videira



            Em setembro de 2019, visitei com a minha turma uma exposição da pintora Graça Morais, no Museu Nacional Soares dos Reis 

            Era um conjunto de mais de oito dezenas de desenhos e pintura sobre papelcom o nome “Metamorfoses da Humanidade”. Foi perturbador olhar estas imagens que condensam os nossos medos, desejos e voragens, obrigando-nos a refletir sobre Natureza Humana.  

             A exposição tem várias facetas: por um lado figuras densas, grotescas, inquietas; por outro, figuras serenas, intrigantes, puras. Muitas vezes são representadas personagens animalescas, mutantes de humano para gafanhoto. Porquê o gafanhoto? Sozinho, é um inseto inofensivo (até visto como uma iguaria no Oriente), mas em grupo um predador furtivo: uma praga que ataca em massa. As imagens dão vozes aos mais fracos e fazem-nos sentir uma compaixão que por si mesma contrasta com o desprezo que sentimos pelo nosso ser. 

             Gostava de destacar um desenho que contrasta com todos os outros. Uma simbiose entre uma senhora, aparentemente idosa, e uma folha de videira. Emocionou-me a frieza, movimento e leveza do quadro, bem como a sua espiritualidade. Espiritualidade, já que a palavra videira se conota com aquilo que dá vida, que fornece alimento: “Jesus disse: Eu sou a videira verdadeira (João 15.1) “. Partindo disto, podemos interpretar o desenho como uma conexão entre a vida e a morte, a fragilidade do ser humano.  

            Fui desafiado a associar uma música este quadro; tarefa difícil, já que penso que o seu silêncio é tão valioso como qualquer cenário sonoro. Então, partindo das minhas sensações enquanto observador

(não, partindo do quadro em concreto), surge uma música na minha cabeça: o “Adagio assai”, do Concerto para piano em Sol de Maurice Ravel. Música que me transmite a mesma paz e intimidade com que olho o quadro de Graça Morais. Leva-me à aceitação. Aceitação de que a vida pode ser como a música, um bilhete de ida.  

            Assim concluo que Graça Morais parece ter esperança em nós, observadores. Talvez através deste manifesto, consigamos olhar o mundo na terceira pessoa e lutar por um lugar melhor. 



 Francisco Américo Pais – texto escrito em outubro de 2019